Dia de Gibi Novo: Signal to Noise
Sabe quando você lê um livro ou vê um filme e gostaria de ter sido o autor? Não só por ser algo muito bem feito, mas por ser óbvio que é para aonde suas ambições e esforços estão levando você? 
Signal to Noise - de 
Neil Gaiman e 
Dave McKean é uma das hqs que eu queria ter feito (outra é 
Face, de Milligan e Freguedo).
Apesar de ter conhecido seu trabalho através de 
Sandman, acho que os melhores trabalhos de Gaiman são aqueles nos quais o sobrenatural aparece menos. O forte dele é a prosa e a caracterização - o que é visível por baixo do verniz místico das histórias com Morpheus. Entre as hqs dele mais pé no chão, 
Signal to Noise é a melhor (as outras são 
Violent Cases e 
Mr. Punch).
Signal to Noise conta a história de um diretor de cinema que está morrendo de câncer e começa a fazer seu último filme em sua cabeça, como forma de passar o tempo. Refletindo a mortalidade recém-percebida do diretor, o filme é sobre o fim do mundo que se esperava no final do primeiro milênio. Conforme 
Apocatastatis vai se desenvolvendo, seu autor vai reavaliando seu papel como artista e pessoa.
Além de ter uma história muito bem feita, 
Signal to Noise é linda. A arte de Dave McKean - em tamanho grande, ainda por cima - mistura fotografia, desenhos, recortes e 
stills de vídeo em páginas  muito bem compostas. Cada uma delas poderia ser um pôster. Também notável é como as imagens realmente ampliam o significado das palavras, em uma harmonia impressionante.
O título da história serve de mote para todos os elementos da obra. Enquanto o texto trata tanto da dissonância entre a intenção do artista e a obra final, quanto da reflexão sobre o que é realmente importante em nossas vidas, a arte constantemente se desfaz em sinais sem sentido.
Quando releio 
Signal to Noise - publicada pela primeira vez em 1988 - fico muito decepcionado com o rumo que o trabalho de Gaiman tomou. Apesar de ser um autor bastante competente e com rompantes de genialidade (
Death: High Cost of Living, 
Stardust e suas histórias em 
Miracleman são provas disso), a escolha por se debruçar sobre fantasia e horror exclui a possibilidade de futuros trabalhos mais desafiadores e com temas mais relevantes.